Epístola aos Gálatas
Epístola aos Gálatas

Epístola aos Gálatas

Eram denominados gálatas, os habitantes da região central da Península de Anatólia, atual Turquia. Na época dos apóstolos, os gálatas eram compostos principalmente por gauleses, gregos, romanos e judeus.

 

Quem eram os gauleses?

Os gauleses, ou gálios eram oriundos de Gália (não confundir com País de Gales), antiga província do Império Romano, que hoje corresponde a parte do território francês. Cerca de 300 anos antes da chegada dos apóstolos em Galácia, um grande contingente de gauleses havia migrado e estabelecido em Anatólia. Os gregos chamavam esses migrantes de gálatas, assim como a língua que falavam. Um outro fator bastante importante para entendermos o que estava acontecendo com as igrejas dos gálatas é saber quem eram, e o que queriam os judaizantes.

 

Quem eram os judaizantes?

São denominados judaizantes, cristãos simpatizantes do judaísmo, que buscavam introduzir Leis e tradições mosaicas nas igrejas. As igrejas da Galácia eram congregações compostas de israelitas, gregos, romanos, celtas, entre outros. Os judaizantes e falsos irmãos (Gl 2:4) astutamente se infiltraram nessas igrejas incitando rebeldia, pregando ser necessário também aos cristãos adotarem costumes judaicos como de circuncisão e observância de festas religiosas para serem salvos.

“Insurgiram-se entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a Lei de Moisés.” (At 15:5)

 

Paulo atribui aos judaizantes, a seguinte frase: “[…] Há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.” (Gl 1:8). Eram estes que perturbavam os crentes gálatas tentando ensinar um “outro evangelho”. Qualquer pessoa que não ensina o evangelho que Cristo entregou não tem a autoridade de Cristo e será destruída (veja 2 João 9).

 

Epístola de Paulo aos gálatas

“[…] Às igrejas da Galácia, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do [nosso] Senhor Jesus Cristo” (Gl 1:2-3)

 

Nos tempos da igreja primitiva, incluíam na província de Galácia as cidades licaônicas meridionais de Icônio, Listra e Derbe, bem como a cidade de Antioquia da Pisídia. Paulo havia fundado igrejas em todas estas cidades na sua primeira viagem missionária, acompanhado por Barnabé – por isso, a Epístola aos Gálatas é considerada uma epístola comunitária, ou seja, escrita para ser lida em todas estas igrejas da região.

 

Na primeira viagem missionária de Paulo, muitos gálatas prontamente receberam o evangelho e se tornaram fervorosos na fé, porém, com a partida de Paulo, esses mesmos gálatas se tornaram presa fácil de judaizantes que insistiam na observância meticulosa da Lei. A Epístola aos Gálatas é uma severa repreensão às igrejas da região de Galácia que estavam sendo influenciadas por judaizantes que procuravam se justificar por essas obras da Lei:

“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.” (Gl 1:6)

 

Ao lermos os relatos da missão evangelística de Paulo, observamos que na sua época, muitos judeus se opunham ferozmente ao cristianismo, como relata essa passagem:

“Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto.” (At 14:19)

 

Os judaizantes não queriam sofrer perseguição por causa de JESUS. Por isso, na tentativa de atenuar a perseguição dos judeus, queriam que os cristãos gálatas fossem circuncidados para que pudessem criar, pelo menos, uma aparência que cultivaria suposta aprovação dos judeus e os impediria de se oporem tão violentamente. A isto, Paulo respondeu:

“Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Pois nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei; antes, querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.” (Gl 6:12-13)

 

Os judaizantes não reconheciam o apostolado de Paulo:

  • Para anular o respeito da igreja pelo apóstolo, os judaizantes acusavam Paulo de evangelista de segunda categoria, mas Paulo respondeu:

“Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1:11-12)

 

  • e o acusavam falsamente a fim de conseguir que as igrejas os seguissem(Gl 1:11, 12, 15-20)

“Os que vos obsequiam não o fazem sinceramente, mas querem afastar-vos de mim, para que o vosso zelo seja em favor deles.” (Gl 4:17)

 

Tentavam fazer uma espécie de mesclagem religiosa entre o cristianismo e o judaísmo, mas argumentando que a circuncisão seria de proveito para os gálatas, que os faria progredir no cristianismo, e que, além disso, com ela seriam filhos de Abraão, a quem originalmente foi dado o pacto da circuncisão. 3:7.

 

Concílio de Jerusalém

Nesta reunião marcada pelos apóstolos e presbíteros em Jerusalém, a incitação de práticas das leis cerimoniais e observância de costumes judaicos aos cristãos foram duramente condenadas, como está registrada detalhadamente em Atos 15 e confirmada pelo Espírito Santo (At 15:28).

 

Talvez seja interessante aqui citar que desde os tempos mais remotos do A.T. até os dias atuais há um código de conduta judaico denominado Avodah Zarah que proíbe os não judeus a praticarem costumes judaicos, considerando um grave insulto ao judaísmo. Por outro lado, os cristão são desobrigados a cumprir as Leis Mosaicas (cf. At 15:10 e 19) porque em Cristo, somos salvos pela fé, e não por obras da carne. Não aceitar esta verdade do evangelho é ignorar a obra redentora que o Senhor JESUS fez na cruz por todos: judeus ou gentios. Contudo, alguns perturbavam os gálatas, pregando “outro evangelho” (1:6). De fato, não existe outro evangelho, mas estes estavam pervertendo “o evangelho de Cristo” (1:6-7).

 

Ninguém é declarado justo por obras, senão pela fé em JESUS Cristo

  • Se alguém pudesse ser declarado justo por obras da lei, a morte de Cristo não teria sido necessária. (Gl 2:15-21)

  • Os gálatas receberam o Espírito de Deus por terem aceito com fé as boas novas, não devido a obras. (Gl 3:1-5)

  • Verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que têm fé igual à dele. (Gl 3:6-9, 26-29)

  • Visto que aqueles que procuram mostrar-se justos por obras e não conseguem guardá-la perfeitamente, eles estão sob maldição. (Gl 3:10-14)

  • A Lei não invalidou a promessa associada com o pacto abraâmico, mas ela serviu para tornar manifestas as transgressões e atuou como tutor, conduzindo a Cristo. (Gl 3:15-25)

 

É animador notar que as congregações gálatas permaneceram fiéis a Cristo e se mantiveram como colunas da verdade. O apóstolo Paulo visitou-as na sua segunda e terceira viagens missionárias (At 18:23) e o apóstolo Pedro dirigiu sua primeira carta aos gálatas, entre outros (1 Pe:1).

Talvez alguns cristãos gálatas querendo se aperfeiçoar na carne, desviaram da verdade inicialmente pregada por Paulo e se perderam na fé, mas em contrapartida, é animador podermos conferir em outras passagens da Bíblia que muitos outros permaneceram firmes.

  • Havendo passado ali algum tempo, saiu, atravessando sucessivamente a região da Galácia e Frígia, confirmando todos os discípulos.” (At 18:23 – Terceira viagem missionária)

  • “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1:1) 

 

A mensagem de Paulo aos gálatas é também uma advertência às muitas igrejas brasileiras, principalmente algumas denominadas neo-pentecostais que se simpatizaram com a judaização. Assim como muitos cristãos das primeiras igrejas, nós também devemos nos manter firmes em JESUS Cristo recusando “outros evangelhos”.